
Imagem: National Geographic
Panapanã
Gabriella Paiva
É incrível o quanto às vezes sentimos a necessidade de uma mudança. Um corte de cabelo, um piercing, um banho. Às vezes estamos tão atoladas na rotina e na vontade de prostrar em uma cama que não percebemos que a mudança começa ao sair do quarto.
Acordo, lavo o rosto. Sinto-me cansada. Tomo meu café da manhã junto com um ansiolítico e o remédio profilático da enxaqueca que me acompanha desde a pré-adolescência. É recesso, não preciso trocar de roupa, posso apenas aproveitar o vazio completo do meu dia com ligeiramente nada para fazer. Volto para a cama.
Esses pequenos intervalos em que me levanto para fazer algo são arrastados, como se meus calcanhares já não quisessem tocar o chão e meus mindinhos do pé não quisessem trazer o equilíbrio necessário para que eu permanecesse reta. Logo estaria de volta a minha fortaleza, meu porto seguro, minha querida cama.
Olho para o quintal enquanto faço o caminho para a cozinha e vejo minha cadela brincando, ou lutando, com uma borboleta. Chego mais perto. Resolvo ir até lá. Eis uma panapanã. Panapanã, um coletivo de borboletas. Assim como uma manada está para elefantes e um enxame está para abelhas, panapanã está para borboletas. São tantas borboletas que me resta pensar se vieram me buscar ou me visitar, seria coincidência?
Minha mãe sempre dizia que borboleta significa mudança, talvez ela esteja certa, talvez esteja na hora. Levem-me daqui. Levem-me. Tragam mudanças. Deixem-me. Deixem. Deixem minha cicatriz. Não preciso de mudanças, preciso de mim. Panapanã apenas dentro de mim.