De baixo de um pé de baru

O projeto de extensão “Terra encantada: gente miúda, direitos integrais”, para quem não o conhece, é, resumidamente, um projeto de extensão do Coletivo Magnífica Mundi, em parceria com a Faculdade de Educação Física e a comunidade do Sertão, em Alto Paraíso de Goiás. Mas, para conhecer os caminhos, os laços e a trajetória desse projeto, é preciso começar do início e para isso, precisamos nos teletransportar para a Chapada, especificamente, para debaixo de um pé de Baru, pois foi lá onde tudo começou…
Sentados debaixo da sombra do pé de Baru, no meio do Sertão, na Terra Encantada da Chapada dos Veadeiros, estavam Del, Jaci e Niltin, os três responsáveis pela idealização e desenvolvimento do projeto. Delmar Rezende, a Del, é moradora da comunidade e também professora das crianças na escolinha do Sertão, a Escola Santo Antônio da Parida. Jaciara Leite, a Jaci, na época, era professora do curso de Educação Física da (UFG). Já Nilton Rocha, o Niltin, é professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Três professores, que antes já haviam se esbarrado nas caminhadas da vida e que decidiram se unir em um mesmo objetivo, o Sertão Encantado. Segundo Del, sem recordar exatamente, seu encontro com Niltin aconteceu entre os anos de 1996 e 1998. Del conta que o professor Nilton estava em São Jorge, montando uma rádio popular, como quem não quer nada.
“Eu me lembro que achei aquilo fantástico,
não imaginava que uma rádio era um negócio tão
simples e poderia funcionar dentro de um carro” - Del
Além disso, o professor tinha ido com uma turma de acadêmicos, que estava dando uma oficina com máquina de datilografia e ensinando a montar a boneca do jornal, numa folha de papel sulfite, conta Del.
“Eu fiz essa oficina e foi então que nos falamos pela primeira vez,
achei ele muito acessível e falei da importância de uma rádio aqui para o Sertão. Porque dada a distância na época, o ideal era ter uma rádio para avisar a comunidade, os alunos, dos acontecimentos, do clima, das aulas…” - Del
Segundo Del, Niltin logo quis saber onde era o Sertão e disse que iria até lá, que tinham um coletivo e que a universidade era para compartilhar. E, assim, ficaram combinados. Mas anos se passaram, quinze anos, Del faz questão de reforçar entre risadas, mas com uma cobrança merecida.
Jaci e Niltin se conhecem. A professora explica que chegou, até a Faculdade de Educação Física, um convite para contribuir em um evento chamado “Circo da Comunicação”, para seiscentas crianças.
“Eu achei aquilo tão interessante, pensei, ‘nossa,
imagina 600 crianças dentro da UFG. Que loucura!’
E demonstrei interesse em participar” - Jaciara Leite
Segundo Jaciara, nessa época, uma estudante chamada Milena, que fazia parte da Magnífica Mundi, era quem dialogava com ela, até então, ela não havia tido contato com Nilton. Depois das conversas, quarenta estudantes da Faculdade de Educação Física foram mobilizados para a organização do evento, que começou no primeiro dia da greve de 2012.
“Mesmo sem aula, os estudantes estavam lá, foi muito bonito
e tinha muita gente da música e do teatro também” - Jaciara
No dia do evento, a professora compareceu para assistir ao espetáculo de circo e lá encontrou e conheceu o Niltin, finalmente.
"Aí a gente se conhece nessa ocasião. E então, ele pega o microfone, dá na minha mão e fala - Você não quer apresentar a próxima atração? -, num jeito bem Niltin de ser” - Jaci, rindo e contando a história.
“Desde então, nunca mais nos soltamos”, conta a professora. Depois desse grande evento e desse encontro marcante com Niltin, Jaciara disse que o professor a procurou e relatou que havia uma comunidade camponesa no Sertão, que ele tinha laços, e que poderiam elaborar uma proposta de projeto de extensão juntos.
De acordo com Jaci, a Universidade estava em outro momento, o país estava em outro contexto político, no primeiro mandato da Presidenta Dilma, e a verba para a extensão era a maior que já tinha se visto em toda a história das universidades brasileiras.
"Tínhamos editais e verba para a educação, então o Nilton disse
- Vamos elaborar esse projeto! - e que o nome poderia ser “Terra Encantada, gente miúda e direitos integrais”. Eu achei aquilo maravilhoso, um nome incrível” - Jaci
Jaci e Nilton começaram, então, a pensar o que poderia ser feito unindo as pessoas da Comunicação, do Teatro e da Educação Física.
Então, antes de ir ao Sertão, foi feita uma reunião, em que todos saíram dali com o compromisso de planejar, de pensar juntos, como seria a materialização desse projeto com a comunidade, conta a professora.
“Eram muitos sonhos, muitos sonhos: rádio,
natação no rio, teatro... Como faríamos?" - Jaci
A ida…
Jaci, Nilton e vários estudantes vão ao sertão.
De volta à sombra do pé de Baru, na porta da casa de Del, foi lá que Niltin chegou e a avistou com um sorriso desconfiado. “Ele chegou dizendo assim: eu disse pra você que viria, pois eu vim!”, relembra Del.
“Do nada, me chega ele, ai eu disse: ‘que cara de pau de me chegar aqui 15 anos depois do combinado!’” - Del, caindo na gargalhada
Ali, ficaram sentados horas e horas a fio, em um papo interminável, com ideias e ideias de como tudo seria trabalhado dentro da escola da comunidade do Sertão.
“Foi durante esse papo que conheci a Del e me lembro bem, foi debaixo do pé de Baru que tomei pela primeira vez suco de cagaita, oferecido por Dona Laurinda. E então, começamos toda essa história” - Jaci
A partir de então e das demandas da comunidade, diversas atividades foram desenvolvidas, com a participação de acadêmicos, professores e as grandes estrelas daquela terra encantada, as crianças.
Oficinas de texto, de rádio, de fotos, sessões de cinema, aulas de natação no rio, de vôlei, de futebol, de basquete, apresentações teatrais, musicais, tudo isso, era feito conjuntamente com a comunidade e visava auxiliar no processo educacional da Escola do Sertão.“Tinha dia que eu chegava nas salas e dizia: ‘hoje a aula é no rio!’”, relembra Del.
A professora Jaciara conta que todo esse processo foi feito gradualmente e com o método do compartilhar.
“Entrar neste grande portal que é a Chapada dos Veadeiros,
uma chapada profunda, não como turista, mas mergulhar profundamente, conhecendo as pessoas de lá, as crianças, as histórias e assim poder trocar com elas”- Jaci
O que a professora de natação, agora de piscina e de rio, narra é a mais singela e verdadeira conceituação de extensão, um dos pilares da universidade pública.
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Sendo encantado, no Sertão tudo é possível…
Seria possível, como jornalista, professora, artista ou estudante, todas motivadas pela inquietação curiosa, querer conhecer o mundo sem colocar os pés no próprio mundo? Na universidade, ouve-se dizer, se sabe de tudo, se conhece de tudo, se fala de tudo. Tudo o quê? Não foi nos limites do campus que se ouviu e se contou, pela primeira vez, as histórias de um tal “Sertão Encantado”.
[“A ideia inicial era ampliar as possibilidades de acesso ao
Brasil real e ao mundo mais profundo”] - Delmar Rezende
Imagine só: como uma jornalista em formação poderia sequer pautar uma reportagem sobre a Chapada dos Veadeiros sem conhecer, de fato, a Chapada? Para além das imagens de satélite ou passeios turísticos pelas cachoeiras, é claro. Conhecer é se integrar. Entender o território pelas crianças, pelos mais velhos, pelo olhar atento ao dia a dia e pelas contações de causos, pelos quais se descobrem desde pregação de peças até as consequências do negligenciamento governamental.
[“Na oficina de natação, pensar que, naquela comunidade,
aquele rio possui tantos significados”] - Jaciara Leite
Ao mesmo tempo, como é possível ser uma professora de natação sem perceber que, no campo e na cidade, esse ensinamento tem pesos e importâncias diferentes para os aprendizes? Nas piscinas, tudo é controlado. O tamanho e a profundidade são delimitadas pelas margens, as raias separam cada nadador ou nadadora, a água é parada e translúcida. Lá no Sertão, aprender a nadar é questão de sobrevivência: quando o nível do rio sobe até a altura da cintura, atravessar se torna um risco. A correnteza é irregular, cada trecho possui uma profundidade diferente, e onde se pisa, não se vê.
[“O sertão vai virar mar… diz a lenda
da Pedra da Batateira”] - Paula de Paula
No teatro ou na música, é possível se apresentar sem um grande palco com cortinas vermelhas? O cenário improvisado, os figurinos criativos e a inquietude das crianças da Escola Municipal Santo Antônio da Parida, a Escolinha do Sertão, provam que sim, é possível. O que dizer, então, sobre a produção de um documentário, a realização de oficinas de rádio ou a organização de um cinema ao ar livre? O que se pode dizer é que não só é possível, como já faz parte da memória do projeto Terra Encantada - gente miúda, direitos integrais.
Extensão se faz do encontro…
Todas essas possibilidades não surgem do nada. Elas são construídas, coletivamente, através da prática da extensão universitária, de perspectivas muito sólidas sobre o compartilhar e, imprescindível, da querência coletiva. “A extensão universitária se faz do encontro, do interesse das pessoas, da necessidade de um que complementa a necessidade do outro”, dizia Delmar Rezende, a Del do Sertão, em um auditório da Universidade de São Paulo, no final de 2018, quando o sertão finalmente encontrou o mar.
[“A universidade pra mim é sinônimo
de liberdade, de poder sonhar”] - Delmar
A extensão é uma troca, um ato de retorno. Pode-se entender como um lugar de atuação simbólica, social e cultural, mas, em resumo, extensão é encontro! E nesse, a universidade se amplia e se torna, também, comunidade, que por sua vez, se transforma em universidade. Assim, a troca de saberes entre academia e comunidade torna-se possível, cedendo e ocupando novos espaços.
Dentro da universidade, a extensão tem um papel aglutinador - além de político -, entende Elysson Barros, estudante de Educação Física na Universidade Federal de Goiás, que integrou o projeto. “No tripé universitário, a pesquisa se utiliza do meio social para a retirada dos dados e elaboração de conceitos e, uma vez que estes estejam consolidados, passam a compor o repertório de ensino”. Mas, ao falar do compartilhado, a prática extensionista está além da função de equilibrar o tripé.
No compartilhado, os passos vêm de longe. Com exatidão e uma cobrança justa, eles vieram depois de quinze anos do primeiro encontro. Mas isso não é um problema, nem nunca foi. Quinze anos foram o preparo para a eternidade do Terra Encantada. Com certa perspectiva, passou voando!
A extensão, na perspectiva, ou melhor, na convicção das práticas compartilhadas, faz parte de todos os processos, desde as oficinas até a divisão de tarefas depois das refeições coletivas. Compartilha-se os saberes, os equipamentos, as técnicas, assim como são compartilhadas as casas para dormir, o alimento, as tarefas rotineiras.
[“Era sonho borbulhando pra todo lado”] - Jaci
E o que começou com a proposta de uma rádio, se tornou natação, teatro, documentário e tantas coisas mais. “Era sonho borbulhando pra todo lado!”, descreve Jaciara Leite, a Jaci da Educação Física, que garante que a oficina de natação no rio foi a melhor experiência de sua vida como professora.
E borbulhavam dentro das casas das famílias que recebiam, de portas e sorrisos abertos, pessoas e ideias compartilhadas. Fervilhavam tanto dentro das salas de aula que as quatro paredes já não eram o bastante, foi preciso estender a classe para a serra, o rio, a estrada. De sonhos borbulhando, um Sertão encantado.
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O corpo que nada é a voz que narra
Fonte: Arquivo pessoal professora Jaciara
Borbulhavam os sonhos de um encontro que unisse o sertão e a cidade, as escolas do campo e a universidade. Idealizaram oficinas de rádio, de fotografia e de texto, e ficaram ali, debaixo do pé de baru imaginando essa caminhada compartilhada.
Foram-se os anos, os projetos e as idealizações, quando em 2013 começam a, finalmente, tomar forma todos aqueles planos. Estudantes da UFG, de múltiplas áreas de formação, juntos aos professores e professoras da cidade e do campo, começam a preparar as oficinas para os alunos do sertão. O que ensinar? Por quê ensinar? Como ensinar? Questionamentos práticos, de caráter imediatista, começam a guiar essa construção.
Como bem lembra a professora Jaciara Leite, envolvida no projeto pela Educação Física, os fundos governamentais para a realização da extensão naquela época, mesmo que longe do ideal, permitiram vários encontros entre esses grupos. Seja numa Kombi ou num micro-ônibus, cada viagem acontecia da forma que se conseguia, mas acontecia. Juntavam os equipamentos de que se dispunham e rumavam para o sertão.
Começaram, enfim, as oficinas na escolinha do sertão, na Chapada dos Veadeiros, no interior de Goiás. Nesse contato começa a se concretizar o “Terra encantada”. Em conversas com Janderson Honorato, na época, aluno da Educação Física, e com as professoras Del e Jaciara, entende-se a extensão enquanto prática.
Nessas conversas borbulhavam questionamentos: o que, de fato, era a extensão para aquelas pessoas? Como se construiu esse compartilhar de conhecimentos? E como tudo isso foi recebido pelas crianças? Uma resposta puxava mais duas perguntas e nesse ritmo foi-se conhecendo um pouco mais da extensão na universidade pública, através das histórias no campo com o “Terra encantada”.
Entre horas de conversas, surgiu um denominador comum: a essência da extensão para quem se envolveu naquele projeto é o compartilhar, uma construção conjunta. Os conhecimentos do sertão se mostraram valiosos aos alunos e professores que vieram da cidade grande. Os saberes que vinham da Universidade eram recebidos com água na boca por aquelas crianças. As oficinas eram pensadas e montadas pensando sempre na realidade daquelas escolas. Como aquele conhecimento levado pode se somar àquela realidade? O que é possível de se construir juntos? Esses são guias da extensão no projeto Terra Encantada.
Falavam, com sorriso no rosto, como fizeram do rio que existe nas redondezas, um espaço de sala de aula. Não é só mais um lugar de passagem, ou um dificultador do acesso à escola nos dias chuvosos, virou espaço de aprendizado. Os alunos, alunas e professores da Educação Física, que estão habituados a piscinas retangulares de nível regular e a águas claras, se viram forçados a reformular seus conhecimentos para poderem ensinar ali. Para aprenderem a nadar, fizeram raias com garrafas pet; quando foram aprender a jogar basquete, construíram juntos as tabelas; até o pão que comiam teve a receita compartilhada entre todos. A construção do Terra Encantada é conjunta.
Fotos: arquivo pessoal da professora Jaciara
A professora Del, da escola do campo, acusa que, ao chegar “o pessoal da cidade” para realização do projeto, ela se sentia um pouco “rato de laboratório”, o “exótico” sendo observado por pesquisadores. As realidades distintas impõem um sentimento de estranhamento e desconforto, quando se mantêm separadas. Nesse sentido, esse estranhamento natural teve fim justamente na realização das oficinas, no compartilhar dos saberes. Ela conta que, ao perceber que os alunos do Jornalismo se misturavam aos da Educação Física, que se somavam aos do Teatro ou da Geografia, e que por sua vez se juntavam todos aos alunos do campo para somar numa construção única, foi aí que o sentimento inicial sumiu.
Os preconceitos do campo para com a cidade e os da cidade para com o campo se diluem no existir conjunto, o compartilhar como método que sustenta a extensão se mantém. Os conhecimentos que vem de lá se moldam aos daqui e se atualizam. Os saberes da universidade, isolados do mundo, perdem seu sentido, mas na extensão se realizam. A professora Del conta que ocupar o rio como sala de aula foi fator decisivo para fazer o enfrentamento ao esgoto que era descartado ali. “Quando eu chego na prefeitura com as fotos da Jaciara e dos meninos no rio, eles não tem o que dizer, aquilo é sala de aula!”.
Fotos: arquivo pessoal da professora Jaciara
Citando um texto de Carlos Rodrigues Brandão, a professora Jaci resume parte de sua experiência no sertão: “O modelo atual de criação de saber especializado gera uma expansão crescente de galhos e de ramos científicos e não científicos que tendem a perda de contato com troncos unificadores, troncos de conhecimento e de sensibilidade destinados a uma crescente compreensão plena e profunda dos mistérios da vida e do universo em todas suas dimensões.” Os saberes especializados das universidades se afastaram tanto do tronco unificador que se esqueceram de suas raízes.
Para que produzir esse conhecimento? Por que aprender ? Por que ensinar? No Terra Encantada se rememorou a essência da produção de conhecimento da Universidade, retomamos contato com o grande tronco sustentador dessa árvore do conhecimento humano. A essência da produção científica que se dá em universidades é o compartilhar desses saberes. Os ramos mais altos não devem se esquecer de suas conexões com a terra.
Os planos de mais de 20 anos se concretizaram na forma de oficinas, seja de jornalismo, de Educação Física ou de Teatro. Quando o conhecimento da universidade se traduziu para a realidade do campo, a extensão cumpriu seu papel. O conhecimento compartilhado toma forma e cresce quando se insere na realidade do outro, o sair da universidade é fundamental. Imaginar um cenário onde a extensão é tratada com cada vez mais desdém é imaginar uma universidade que se fecha em si própria e se elitiza ainda mais, se afastando daquilo que legitima sua existência: o compartilhar dos saberes.
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Acolá, a produção compartilhada
[“Como é habitar um território historicamente marcado pela resistência?
Como é conviver com histórias, memórias, onças e mitos da serra da Laranjeira?
A partir de uma oficina de audiovisual, crianças e adolescentes de uma comunidade
camponesa tradicional situada na Chapada dos Veadeiros se apropriam de equipamentos
de vídeo e áudio e constroem narrativas sobre a realidade que vivem”] - Sinopse do documentário de Amanda Costa, em correalização com as crianças e adolescentes da Escola do Sertão.
O documentário “Acolá, um sertão” surgiu desde a primeira ida da estudante de jornalismo Amanda Costa ao Sertão, uma das integrantes do projeto que ministrava oficinas para as crianças da escola local. Amanda fala que a ideia de gravar o documentário veio por meio do contato com as crianças e com todos os camponeses durante os quatros anos que participou do projeto. “Quando fui fazer meu projeto de pesquisa, fiquei me perguntando por quê não relacionar a minha vivência do projeto com meu TCC. Pois tudo que eu vivi na Magnífica me levou à construção desse documentário”, ressalta Amanda.
O principal objetivo do documentário era relatar a vida dessas crianças camponesas a partir das oficinas oferecidas no projeto Terra Encantada. De acordo com Amanda, quase não se teve dificuldades pois o pessoal era bastante tranquilo, a maior preocupação na verdade era de como isso tudo iria repercutir, já que o TCC foi financiado por um canal da TV Globo, a TV Cultura, mas toda produção foi bem cuidadosa através da transparência e diálogo com todos que participaram. Ou seja, tudo baseado no jornalismo que é ensinando no Laboratório e Coletivo Magnífica Mundi, o compartilhar, não tratar a fonte de forma distante como se você estivesse a fazendo um favor, mas sim escrever juntos uma história.
[“Umas das minhas maiores buscas na construção do documentário
era ficar próxima e tornar próximo tudo isso que a extensão universitária
nos proporciona, exclusivamente em relação a luta pela terra, soberania
alimentar e assuntos que discutimos tanto na academia, mas não
vivenciamos na prática”] - Amanda Costa
A formação política que a participação no projeto Terra Encantada, assim como a produção do documentário, foi construída aos poucos. Em Amanda, desde que a professora Del falou que o bioma Cerrado estava só o “restinho”, ou quando foi notado que o nível da água do rio está baixando cada vez mais, ela percebeu que tudo é político, lutar pelo povo campesino é político.
O jornalismo compartilhado guiou a produção do documentário, com as crianças participando da gravação, pegando nos equipamentos cinematográficos e contando suas próprias histórias. Ou até mesmo com a trilha sonora com a cantora e professora da Escola do Sertão, Paula de Paula. “Acredito que o compartilhado permitiu que as crianças demonstrassem suas inquietações e fluíssem de uma forma que levou ao resultado final do documentário”, reforça.
Outro ponto importante notado por Amanda foi a coletividade no campo. Todas essas atividades realizadas em grupo contribuíram para o compartilhamento de ideias e realização de um jornalismo mais próximo ao que procurava.
O documentário foi feito com crianças e para as crianças, como uma forma de contarem suas próprias histórias. O resultado do documentário só reforça o processo de aprendizagem no coletivo ao longo da vida acadêmica dos estudantes, integrados à prática compartilhada, através da Magnífica e do mundo.
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Conteúdos a serem usados na diagramação e publicação do material:
As águas e os saberes no Sertão, por Delmar Rezende, Jaciara Leite e Nilton Rocha - capítulo 10 do livro Águas e saberes na Chapada dos Veadeiros CAPITULO 10.pdf
Extensão universitária na Escola do Sertão, por Delmar Rezende, Paula de Paula e Elysson Barros - capítulo da revista Becos Comunicantes #7 Extensão universitária na Escola do Sertão.pdf
Capa e contra-capa do livro “Ser criança camponesa no Cerrado”, por Jaciara Leite Capa e contra-capa.PDF
Vídeo-lançamento do livro “Ser criança camponesa no Cerrado”, por Jaciara Leite https://drive.google.com/file/d/1RtB3ieUkjSRtRY7Y_JufAVYg685eiOdk/view?usp=sharing
Documentário Acolá, um ser-tão, por Amanda Costa e as crianças do Sertão https://www.youtube.com/watch?v=bnszbaGiwKc



