

O amor e os coronéis, no futebol brasileiro
Por
AFONSO
MENDONÇA
ESPORTE
Desde que nossa seleção foi humilhada e derrotada em sua própria casa, na Copa do Mundo de 2014, entrou em pauta seguinte questão: Como é que viemos parar aqui? A resposta está longe de ser simples e é preciso dar dois passos atrás para entender a atual situação da gestão do futebol nacional e como isso reflete na atuação do nosso selecionado de jogadores e também na nossa vida.
A Confederação Brasileira de Futebol é a entidade responsável por administrar todas as áreas do futebol do nosso país, inclusive a seleção brasileira. De diretores a técnicos de futebol, todos os cargos são escolhidos através de decisões com critérios no mínimo duvidosas e que em sua grande maioria tem peso político e não técnico e/ou de competência profissional. Quem determina essas escolhas é o presidente da CBF, esse, eleito por presidentes das Federações Estaduais de futebol. É ai que mora o problema.
A esmagadora maioria das Federações é regida por cartolas (apelido dado a dirigentes que se dedicam integralmente ao seus cargos e ao futebol) que estão no comando há mais de décadas (não há limite para reeleições). Para conseguir a reeleição, os coronéis do futebol, como são chamados, não medem esforços. São inúmeras denúncias de compras de votos, aliciamento de ligas amadoras de futebol e até mesmo ameaças graves. É comum ver a aliança de presidentes de clubes de pequeno porte com os presidentes das federações, pois há evidente troca de favores e negócios eles. Com o apoio das ligas amadoras e de clubes pequenos, o cargo de presidente fica sempre a mercê dos mesmos grupos políticos e até mesmo de uma mesma família.
O interesse nas federações é simples: Taxas altíssimas nas bilheterias dos estádios, porcentagem sobre o patrocínio dos campeonatos que organizam, negociam direitos de transmissão dos mesmos campeonatos além de receberem ajuda de custo da Confederação Brasileira de Futebol todo mês. Um negócio bem rentável para esses coronéis. Mas muito prejudicial aos clubes, que reféns das federações, perdem a oportunidade de criar ligas paralelas onde os interesses dos mesmos possam ser atendidos. A criação de uma liga formada por clubes, que seria uma organização independente, onde os clubes tem autonomia para tomar decisões maiores sobre contratos e distribuição das cotas de televisão, traria inúmeras oportunidades de crescimento para o futebol nacional. Desde a negociação de contratos de TV mais rentáveis, como a padronização dos preços dos ingressos, que sem taxas poderiam ser mais baratos e assim atrair muito mais torcedores aos estádios. Com mais torcedores nos estádios por um preço menor, a bilheteria aumenta e sobra espaço no bolso do mesmo torcedor para poder se tornar um sócio torcedor de seu clube e ajudar com o crescimento do futebol.
Com dinheiro a mais, os clubes poderiam investir na melhoria dos seus centros de treinamento, principalmente os da base, que são sempre preteridos e largados as moscas e conceder uma estrutura digna de trabalho para quem sonha um dia brilhar com a camisa da nossa seleção. Falta autonomia aos clubes, sobra a esses coronéis. Se a forma de eleição das pequenas federações estaduais não for mudada o futebol continuará o mesmo, e mais 7x1 virão por aí...